28.7.20

Quais são os teus sonhos?



Eu não busco aprovação alheia, nem quero aplausos fáceis. O apoio dos normais não me interessa. Eu quero apenas provocar intelectualmente as pessoas criativas, como suponho você é. No fundo, eu quero questionar todas as "verdades", e esmagar todas as convicções. Inclusive as tuas, mas principalmente as minhas. Para que possamos trocar experiências fascinantes — e talvez criar alguma coisa verdadeiramente nova.



Se todo amor fosse eterno, aquele teu primeiro já teria sido...




Ela me ensinou a pecar sem culpa — isso eu jamais esquecerei. Tinha um pé de café lá no fundo do quintal, ao lado de uma roseira, e eu ficava colhendo só os grãozinhos vermelhos, que eram bem doces. Havia também um velho torrador de manivela meio enferrujado, um fogão de lenha limpíssimo, e muitas histórias de amor. E uma ciência sutil que só as mulheres eleitas por Deus conseguem ter.

O processo todo das lições que ela me dava é muito longo — passa até por um despertador de alumínio, um Jesus de madeira corroída, uma bicicleta vermelha e várias tentações. Um dia desses vou descrevê-lo aqui.

Ela ainda assava queijo branco na palha de milho, todo dia, e me olhava com seus olhos de mistério. Mas, a imagem que mais me volta hoje à lembrança... é minha Vó Vitalina olhando o Botticelli pregado na parede da sala, e tomando café no bico do bule. Delicadamente — como se fizesse amor.


Vou agora fazer o meu.

Antes que a noite acabe e a lua se vá.






Eu era um socialista romântico. Queria salvar a classe operária, mal sabendo que classe que não tem classe não se salva. Eu li o Livro Vermelho de Mao Tsé-Tung. Li "O Capital" inteiro e escrevi uma tese sobre Lênin. Tive que apoiar até mesmo o realismo socialista que chegava de Moscou. Virei comunista e criei a Aliança Juvenil dos Amantes da Natureza. E, como todo bom comunista, achava Freud dispensável, e considerava a psicanálise apenas uma "técnica de manipulação pequeno-burguesa". Mas, eis que o Acaso na esquina da vida em forma de vaso caiu-me por sobre. E o meu grande amigo Gaiarsa me virou a cabeça. Apaixonei-me por ele e pelas coisas que dizia. Coisas óbvias, mas que eu nem percebia. Mudei. Conheci Moreno e Reich. Deitei-me com Jung e Cioran. E depois fui jogado nos braços de Osho ao lado de uma cachoeira escandalosa em São Francisco. Desabei-me sobre mim num balaio de flores e estrelas. Vi ruírem todas as minhas estruturas intelectuais. Vi que toda seriedade era risível. Agarrei-me ao novo Livro Orange. Destruí as minhas convicções. Rasguei minhas gravatas, desfiz os meus laços, descasei-me em baciada... Aquilo que sempre desprezei passou a ser fundamental, de uma hora para outra. Nietzsche, de quem eu mantinha enorme distância política, passou a ser meu sócio nas loucuras mais gostosas. Comecei a dançar a vida com Roger Garaudy. Tirei a máscara e mostrei meu rosto. Existenciei-me. Transei com Sartre, e beijei Henry Miller na boca. Meu Deus! Acordei para sempre. E o próprio tempo passou a ser meu. Enfim, assumi o comando do meu destino. E agora estou aqui, te olhando nos olhos e pensando delícias. Pensando em te convidar também para saltar comigo. Para saltar profundo como eu saltei.


Mas não basta ter asas — é preciso ser livre.






Sei que vocês discordarão de muitas coisas que aqui vão ler. Muitas. Afinal, cada um de nós tem seu próprio tempo, seu sistema de valores, sua própria maneira de julgar um fato, de analisar fenômenos, de encontrar saídas. Cada um de nós tem sua particular visão do mundo, intransferível, única, exclusiva. Cada um tem suas ideias de verdade, de justiça, de amor, de religião. Cada um de nós tem seu próprio modo de se salvar.

Ou se perder.


Eu, fotografado por Carl Gustav Jansson.






Eu me apaixonei pelas duas — ao mesmo tempo. Mas, enquanto Patrícia desejava "o melhor" para mim, Suzana só queria que eu fosse um poeta louco, exagerado. Eu, de minha parte, que nunca tive mesmo a pretensão de ser indispensável, só queria fluir. Fluir e voar, enquanto ainda houvesse algum vento de liberdade soprando em mim. Enquanto ainda tivesse meia dúzia de asas, todas livres, saudáveis e amorosas.

Patrícia, por uns tempos, foi o meu maior amor, em quase todos os sentidos. Suzana, também. Por isso, dediquei a elas tudo o que fiz de melhor naquela fase da minha vida.

Era sincero quando lhes dizia, a cada uma, "eu te amo". E também sincero nos momentos em que só pude amá-las em silêncio profundo porque estava, respeitosamente, com outras.

Corria o ano de 1999. 
O século 20 estava virando de ponta-cabeça. 
E a Vida, ali — me convidando como fosse Tentação.

Como todo mundo que busca crescimento espiritual, eu tenho dois lados: o sério e o gostoso. Patrícia, é claro, queria o primeiro. Suzana — o gostoso. Patrícia queria, primeiro, o eterno, o estável, o mais tarde. E Suzana queria, primeiro, o segundo, o momento — o agora! Patrícia queria o marido. Suzana, o poeta. Patrícia, como já disse, era sensualíssima, mas Suzana tinha a inocência mágica dos 17. Enquanto Patrícia adorava o burguês que morava no meu corpo, e me cobria de roupas, perfumes e presentes, Suzana só me descobria. Adorava o meu lado maluco, segurava minhas mãos como se me pegasse todo, e dizia, olho no olho, sorrindo, encantada:

Viva a vida, Edson — nos três sentidos!

Patrícia queria certezas; Suzana me jogava no abismo.

Patrícia significava segurança, estabilidade.

Mas Suzana quer dizer Aventura!

Durou quase dois anos esse nosso delicioso triângulo de vertigens. E foi só quando chegamos ao pico é que tive de optar com veemência. Porque, de Patrícia, eu tinha que me salvar correndo, para enfim poder viver. E de Suzana, eu só queria ter belíssimas lembranças...

Além disso, ambas também precisavam salvar-se de mim.

De cabeça, no coração da Vida.





Acabou o churrasco, todos já se foram. Jesus foi o último a sair, abraçado a Henry Miller — os dois de fogo. E já lhes avisei que hoje, mais tarde, teremos um jantar à luz de velas, só para nós três. Disseram que virão.

Agora já é madrugada, e eu fico pensando. Será que você — que talvez não entenda como posso ter feito ontem um churrasco só pra mim — será que você nunca passou uma noite inteira lendo um livro, sublinhando palavras ao acaso, cotovelos apoiados na mesa, as mãos e um belo copo de vinho suportando a cabeça dançante? Será que você nunca passou uma noite inteira sozinho, deliciando-se com você mesmo, solto e alegre — sem saber nem como amanhecer? Pois então é preciso que eu te pergunte: 

Você é livre para vivenciar gostosamente a própria Solidão — se quiser — ou tem sempre que reparti-la com alguém?



O direito à solidão e a capacidade de exercê-lo plenamente são, para mim, mais importantes do que a solidão em si. Entretanto, quando eu falo em solidão me refiro, mais apropriadamente, à solitude — que é algo muito além do que apenas estar sozinho. Aliás, eu adoro companhia! Mas tem que ser companhia inteligente, libertária, excitante, criativa e, preferencialmente, sensual. Aqueles que não têm sensualidade transbordante não inspiram o meu tempo.

Bom ressaltar que isso não significa — de forma alguma! — que tem que haver sempre sexo entre nós. Acontece que as pessoas sensuais têm um estilo de vida mais agradável. São pessoas mais gostosas. E se são sensuais (além de libertárias, criativas, excitantes, etc.) é porque já se libertaram de uma série de outras amarras e preconceitos que costumam deixar as pessoas tristes, chatas, ranzinzas...

E a vida é muito curta para que a gente a desperdice assim, à toa.

Companhias humanas inteligentes, criativas, libertárias — sempre são deliciosas.






Tenho dito que você deveria libertar-se das amarras, saltar profundo e viver a vida. Acontece que isso é uma proposta retórica. Não estou pregando que você deva realmente abandonar tudo e sair correndo agora mesmo. Simplesmente porque não há profundidade suficiente para todos saltarem, ao mesmo tempo. Aliás, se todos saltassem perderíamos as referências. Se todos saltassem — saltar passaria a ser uma coisa banal, comum. Se todos largassem tudo, a vida viraria uma bagunça... Seria o caos. E se tem uma coisa pior do que a ordem absoluta, é a desordem absoluta. Portanto, é preciso que quase todos permaneçam exatamente como estão, atolados nessa desgraçada rotina quotidiana — e cuidando das engrenagens do mundo — para que apenas uns poucos, pouquíssimos, saltem profundos. Afinal, saltar profundo não é pra todo mundo.



Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade.


As grandes inteligências conseguem considerar duas ou mais visões contrastantes — ou contraditórias, e até mesmo antagônicas — de uma mesma questão, analisá-las ambas ou todas em conjunto, simultaneamente, e não preferir nenhuma delas até que alguma conclusão logicamente satisfatória e defensável se apresente.







42 COISAS PRA FAZER EM 2023


(...)
29. Jogue fora tudo que não presta.

30. O que outros dizem a teu respeito nunca vai mudar a tua essência.
31. Não permita que um simples idiota comprometa o teu destino.
32. Faça sempre o que é correto, justo e verdadeiro.
33. Procure não trair jamais a tua própria natureza.
34. Deus cura todas as doenças — exceto o mau humor e a maldade.
35. Valorize a própria liberdade, acima de qualquer outra coisa.
36. Não importa como você esteja se sentindo: pratique uma boa ação.
37. O melhor ainda está por vir — em todos os sentidos.
38. Só o que está morto não muda.
39. Preencha o teu coração com alegria, esperança e gostosura.
40. Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade.
41. Afaste-se de quem te puxa pra baixo.
Para ler as primeiras 28 click AQUI.



Não espere a graça do cisne no pescoço de um pato.


A liberdade é perigosa. A vida livre é arriscada, insegura, incerta, é cheia de surpresas, cheia de perigos e de buscas, mudanças, sobressaltos. A liberdade é muito perigosa... Só quem ama o risco é que pode ser livre. Só quem é dono de si mesmo é que pode ser livre de verdade. Só quem é dono do próprio destino é que arrisca a vida para salvar a própria vida. A liberdade, portanto, não é para qualquer um: os acomodados e os covardes jamais serão livres. Escravos não conseguem ser livres. E a segurança da gaiola seduz.



Se vocês não arriscam nada — pretendem ganhar o quê?


Nunca escondo meus leitores de si mesmos: em verdade, eu ilumino a parte escura do caminho que se encontra dentro deles. Como sou um garimpeiro de verbos incendiados, só gosta de me ler quem já tem brilho e não se apaga... Mas se eu primeiro não tornar as emoções em alegria, não terei coragem de abrir meu coração inteiro para ser lido com ternura por você. Por isso, só me mostro mesmo após o meu encanto, e só te dou estas palavras depois que as refino. Aliás, se eu não polir as minhas pedras preciosas com amor e gostosura, como poderia eu querer trocá-las por essa tua tão amada luz diamante?



A melhor realidade é aquela que nasce de um sonho.


Minha proposta é a Liberdade Absoluta. Eu venho é para semear auroras no teu peito. Quebrar paradigmas, derrubar padrões. Não trago nenhuma resposta pronta: eu só faço perguntas. Em verdade, eu quero é mexer no coração da tua cabeça, por fora e por dentro — poeticamente. Fazer um delicioso cafuné nos teus neurônios enrolados e amorosos. Passar um doce pente fino nos caracóis da tradição... Eu quero questionar as tuas verdades mais queridas. Chacoalhar essas tuas convicções inabaláveis. Não quero te propor sossego — nem venho te trazer nenhuma paz cansada. Eu apenas te convido a ter coragem! Eu te convido a um salto profundo em direção à Vida. Escandalosamente profundo!



Tem dias que alguns querem colocar-me contra a parede...
Mas a parede nunca é contra mim.


Ninguém vai além de seus limites. Se for, não eram. Afinal, se alguém ultrapassar os seus limites, então não eram realmente limites. Eram falsos limites. Milhões de pessoas têm falsos limites. E o que é pior: acreditam neles. Não raro, limites estipulados por terceiros, que sequer teriam direito de interferir em vidas alheias. Mas os piores limites, os mais lamentáveis, são aqueles que nós mesmos nos impomos — quase sempre muito aquém do que seria o ideal, com base em nossos próprios estados negativos de potência. Portanto, não se deixe limitar, nunca! Nem por seus inimigos — nem por esse monstro horroroso e carniceiro que se chama Falta de Coragem. 





Amar de verdade é jamais ter ciúmes do objeto amado. Nem medo de perdê-lo. Amar é não forçar nada, nem sequer um beijo. Amar é não fazer perguntas desnecessárias ou indiscretas — muito menos na hora errada. Amar é deixar fluir a relação em todos os sentidos. É incentivar o voo livre que o outro pode estar querendo, e às vezes até mesmo empurrá-lo com ternura para o abismo gostoso do desconhecido profundo. Amar é respeitar com devoção e aplaudir com entusiasmo esse desejo louco de saltar que o outro às vezes tem.



Assim que o escrevo, eu e o poema nos tornamos uma coisa só.


A condição sine qua non para subir ao Pico (e sentir-se muito bem aqui) é ter asas próprias, saber voar com eficiência — e amar a Liberdade sobre todas as coisas. Sem isso, é melhor contentar-se com o sopé da montanha. Ou então tomar providências rigorosas imediatas!


Mandarim escrito por Luana. 


Veja a seguir o Comercial da Fiat feito com meu poema Mude:








MUDE

Mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.

(...)


.




Quando uma pessoa que eu amo fica doente, 
eu procuro curar-me junto com ela.




São duas as coisas (indispensáveis) que precisamos para conseguir a própria Liberdade: chamam-se Desapego e Coragem. E não dá para se ter uma sem a outra. Acontece que o verdadeiro desapego vai além das coisas materiais. Só ficamos realmente livres quando nos desapegamos até das coisas espirituais. Principalmente das coisas espirituais! Não basta desapegar-se do vinho e do Camaro preto: é preciso desapegar-se de Zeus. De Zeus, de Apolo, e de Vênus. É preciso desapegar-se do pão e das flores. Das estrelas — e também dos amores... 

Sem desapego, impossível ser livre. E sem liberdade, impossível ser feliz. 

A felicidade é uma flor delicada que a gente pendura nos galhos do Agora. Desde que bem pendurada, jamais cairá. Vai durar para sempre. Nunca secará. A felicidade é um estado de espírito — e é um estado tão profundo, que, uma vez atingido, viverá conosco para sempre. A felicidade, depois que a conhecemos de verdade, nunca mais a perdemos. É como uma iluminação budista ou zen. Talvez sejam até a mesma coisa. 

Mas não imaginem que eu esteja negando a gostosura que é ter um Camaro branco ou um cavalo negro com sela de prata. A gostosura que é comer um pão sovado ou ganhar um buquê de rosas champagne. A gostosura que é ter orgasmos. Desapego não significa privação nem desprezo. É amor puro pela coisa em si. 


A maior deficiência mental é a incapacidade de ser feliz.


Começo a supor que existem estratégias inconscientes pessoais inexplicáveis. Montadas à nossa revelia, escapam da nossa compreensão primária. São racionais, logicamente, posto que originadas no cérebro, embora delas não tenhamos consciência. Preciso pensar um pouco mais sobre isso. 


Eu vivo a primavera em qualquer das estações.


A loucura é uma qualidade da minha alma e a liberdade é um atributo do meu corpo. Porém, enquanto substantivas, a minha liberdade e a minha loucura são propriedades que só a mim pertencem. Não abro mão delas nem de seu controle absoluto. Quanto ao corpo e à alma, eu os quero assim, mesmo: loucos e livres. Domesticá-los, jamais! 

Como poeta, salto alegremente nos braços da loucura. Mas, como filósofo, preciso conceituar a expressão: 

Embora seja insuportável para quem já perdeu a lucidez, a Loucura é a única salvação. Por isso recomendo aos "normais ainda saudáveis" que procurem o caminho poético da Loucura inteligente. Claro que não me refiro à loucura inconsciente, transtorno bipolar, psicose, depressão, esquizofrenia, nem algo semelhante. Eu me refiro à loucura criativa de Osho, de Dali, de Paritosh. Eu me refiro à loucura brilhante de Nietzsche, de Jesus e de Artaud; à loucura sagrada de Van Gogh, Henry Miller e Picasso. Eu me refiro à loucura que está ali — aqui — a quase 360 graus da sanidade. Eu me refiro à fuga da escuridão chamada Norma. À quebra radical das as correntes opressoras. Ao abandono puro e simples do rebanho. Eu me refiro à loucura luminosa dos criadores de mundos. À loucura dos amantes da liberdade absoluta. Esta, a loucura que (me) (te) (nos) encanta... 


Não me convide para ser triste.


Se por acaso ou por desastre eu vivo um dia de rotina, espremo à noite o meu coração como quem torce roupa, e não sai nada — nem uma palavra, nem uma gota, nem um pingo, nenhuma emoção. Tudo fica meio cinzento e meio apagado, e meu corpo cansado só consegue dormir. Mas quando vivo um dia de aventuras, vivo também uma noite de prazer escandaloso. As palavras caem delicadas no meu colo, excitantes, graciosas, uma tempestade de desejos e de mel se forma no meu peito, um livro todo escreveria se quisesse. Deus me abraça com tesão e alegria, o vinho branco cai direto lá no céu na minha boca, o universo inteiro entra em foco, meus amores todos se tornam girassóis — e a Vida me convida pra dançar... 
E tudo que eu toco vira música. 


Ser livre excita. Aproxime-se de um ser livre..


Não devemos ficar muito impressionados com uma hipótese, só porque ela é nossa. Toda hipótese não passa de um pequeno passo no caminho do verdadeiro conhecimento. Temos que perguntar, sempre, por que uma determinada ideia nos agrada tanto. Temos obrigação intelectual de compará-la, imparcialmente, com as alternativas. É bom verificarmos se é possível encontrar razões que a invalidem. Aliás, essa verificação é fundamental. Porque, se não fizermos isso, outros certamente o farão — e nós poderemos ser até mesmo ridicularizados. O que nos deve interessar, portanto, antes de tudo, é a verdade, e não o nosso apego inabalável a certas conclusões que adoramos. 


Já estamos quase no fim do ano que vem....


No meu livro Teoria do Acaso eu arrisco bastante na formulação das hipóteses. Vou até Cristóvão Colombo, estudar as razões que o tornaram um aventureiro inteligente. Mostro como as circunstâncias o levaram à descoberta da América. Analiso até os interesses de Fernando e Isabel, reis de Espanha, nessa empreitada. Conto até sobre os anos pobres em que Cristóvão Colombo vendeu livros de porta em porta para sobreviver. Porque, você sabe, se Cristóvão não fosse o louco que era, nem eu nem você existiríamos. É lógico que não existiríamos! 


A chave que te dou para abrir os teus mistérios nunca deve ser usada. Conserva-os para ti.


É melhor que o nosso amor seja brilhante, escandaloso e carregado de energia, forte como um relâmpago — ainda que seja breve, ainda que dure pouco — do que ser apenas o reflexo assustado de uma vela acesa pela metade, fraquinha, quase apagando, tremeluzindo em desespero por toda a eternidade... 


Viva a brevidade do teu amor de forma plena. Não queira esticá-lo mais do que ele pode suportar.


Quando eu falo em Jesus estou me referindo a um Mestre. A um gênio. A um filósofo que soube muito bem compreender a alma humana. Não é, provavelmente, o mesmo Jesus a que você se refere, e em quem você diz que crê. É outro. O meu Jesus é um sábio, o teu parece apenas um ser mitológico. Mas o bom de Jesus é isto: ele já previu que nós dois existiríamos. Um de nós Lhe dá as mãos em cumprimento respeitoso por suas ideias geniais, e o outro só Lhe pede salvação, e um potinho de miçangas. Mas o melhor de tudo nessa história é que, confiando em Jesus — cada um a seu modo — nós dois seremos salvos... 
Cada um a seu modo. 


Hoje eu vou tomar tequila com Biotônico Fontoura....


Sou o autor da minha peça e o próprio personagem. A dança e o bailarino, a música, o maestro, compositor. A ternura mais vermelha e delicada, o lóbulo da orelha e o copo de vinho do meu amor. O beijo e o abraço, a delícia e o licor. O êxtase, e todas as auroras que ainda vão chegar. Sou o céu do precipício, a língua do horizonte — e mais além. Sou o sagrado e o profano, o profundo e o supérfluo, a origem da tragédia, e o brilho da cor. Sou mínimo e tanto, pouco e princípio, paixão, excesso e glória. Sou relâmpago, transitório, passageiro, imprevisível, pétala de estrela solitária, um pingo de ocidente no teu mel. Sou todo infinito no entusiasmo, e a última labareda amorosa de uma espécie de fogo em extinção... 


A capacidade de questionar as próprias convicções é um atributo dos seres mais elevados.


Minha proposta é a Liberdade Absoluta. Eu venho é para semear auroras no teu peito. Quebrar paradigmas, derrubar padrões. Não trago nenhuma resposta pronta: eu só faço perguntas. Em verdade, eu quero mesmo é mexer no coração da tua cabeça — por fora e por dentro — poeticamente. Fazer um delicioso cafuné nos teus neurônios enrolados e amorosos. Passar um doce pente fino nos caracóis da tradição... Eu quero questionar as tuas verdades mais queridas. Chacoalhar essas tuas convicções inabaláveis. Não vim te propor sossego — nem venho te trazer a paz cansada. Eu apenas te convido a ter coragem. Eu te convido a um salto profundo. Escandalosamente profundo. 


Os pés de um grande amor mudam muito mais rapidamente do que o próprio grande amor, em si.


O sono é uma necessidade espiritual. Eu tive essa ideia semana passada e agora fico pensando sobre ela. O bom de ser filósofo sem compromisso e poeta louco é isto: eu posso escrever uma frase genial ou dizer uma besteirinha qualquer — tudo com a maior naturalidade. Mas essa questão do sono ser algo de fundo espiritual está me fascinando, realmente. É uma ideia minha — original. Portanto, se for uma besteira, eu assumo-a, integralmente. Claro que, se quisermos levar a sério tal discussão, precisamos antes definir o que é "espiritual". Precisamos conceituar o Espírito. 

Enquanto a espiritualidade não for matematizável, ela não poderá ser cientificamente definida. Temos que retirar a espiritualidade do âmbito exclusivo da religião. Quem deve se ocupar disso, num primeiro momento, é a Filosofia. Enquanto a Teologia mantiver o falso direito de exclusividade sobre o Espírito, não chegaremos a resultados logicamente aceitáveis. Porque a Teologia se utiliza de dogmas para elaborar seus conceitos — e dogmas são totalmente inaceitáveis pela Ciência. A Ciência constrói seus postulados com base em evidências quantificáveis, mensuráveis, verificáveis. Mesmo quando a Ciência trabalha com hipóteses, estas devem ser pelo menos plausíveis. A Teologia aceita como verdade até mesmo aquilo que pertence ao campo da Feitiçaria. Já a Ciência requer comprovação empírica. E a Filosofia é que deve fazer a ponte para que o Espírito se desloque para o campo da Física. Sem isso, essa energia que eu suponho ser o Espírito vai continuar sob o domínio dos comerciantes de religião, dos pajés e dos pastores — geralmente não muito comprometidos com a verdade. O que será péssimo para o futuro da Humanidade. 

Mas depois eu volto para expandir um pouco mais essa ideia inicial. 


Quem sonha comigo vive em meu sonho.


Eu não escrevo para qualquer um, eu escrevo pra você. Eu escrevo para gente que pensa e brilha como você. Gente que reflete. Por isso é que meus textos são breves, puros, refinados, provocantes. Desenhados com doçura, demoro a escrevê-los. Tem dias que eu demoro duas horas para escrever uma frase. Mas tem dias que eu preciso me cegar para te abrir os olhos. Porque você passa o tempo todo em busca de uma coisa inexistente. Você quer segurança, estabilidade e certezas absolutas... Parece que você não sabe que isso é impossível. E parece que você vai continuar procurando quimeras: o homem da tua vida, a mulher da tua vida, o emprego ideal definitivo, o projeto infalível, um amor eterno, o filho perfeito, um milagre exclusivo. Essas coisas não existem. Mas você, ingenuamente, continua desperdiçando energias vitais nessa busca inglória. As coisas vivem dançando. O mundo é um bailarino. 


Se os amores fossem eternos, eu não teria nenhum. Ou só um — aquele primeiro — que já morreu...


Casar-se burramente, por impulso, por paixão — é até aceitável. Acontece. Mas, separar-se, tem que ser de modo inteligente. Tem que ser algo bem planejado. A decisão tem que ser racional. Separar-se por impulso, por paixão, é uma burrice duplamente acumulada. Portanto, pense muito bem antes de separar-se. Se você não ama suficientemente a liberdade, nem suporta a solidão, fique onde está. E se não for independente — cale-se, simplesmente. Aceite a coleira, a focinheira e as algemas. É preciso tomar providências antes de abrir as asinhas. Ser livre não é para qualquer um. Ser livre é coisa séria. 


Entre gostosura e perfeição, escolho sempre a gostosura.


Eu sei que o que proponho é algo ideal. Eu sei que nem tudo são flores e estrelas na vida das pessoas. Nem todos conseguem livrar-se dos apegos, dos medos e dos preconceitos. Nem todos conseguem livrar-se da pressa e da opressão. Nem todos conseguem mudar valores errados que herdaram. Inteligência emocional é coisa rara. Nem todos podem sonhar, brilhar e dançar. A liberdade não se compra por quilo. Nem todos têm a chance de preparar-se, de refinar-se como se deve. O sistema acaba atropelando quase todos. O tempo é escasso. Eu compreendo. Saltar profundo não é pra todo mundo. 

Entretanto, o fato de ser ideal o que proponho — isso não torna condenável a minha filosofia de vida. Ao contrário, minha filosofia é uma porta poeticamente escancarada para o Céu — desde que se entenda essa palavra como a metáfora mais perfeita da própria Felicidade. Portanto, continuarei defendendo-a, de todas as formas amáveis possíveis. Para sempre. 


Pássaros livres não cantam quando chove.


O desapego é a mais pura forma de amor. Essa minha frase é apenas um resumo do que me disseram dois grandes mestres: Sidarta, o criador do Budismo, e Jesus, aquele que fez o Sermão da Montanha. Eles sussurram todo dia essas coisas para mim. Ambos pregavam exatamente isso: o desapego. Sei que é difícil desapegar-se. Demora muito. Mas, mesmo assim, é preciso ir além. É preciso que nos tornemos não só desapegados, como também desnecessários. Ou seja, é preciso permitir que o outro também de nós se desapegue. Libertar-se — e permitir que o outro também se liberte. Todas as grandes religiões e filosofias orientais pregam exatamente isso. Mas, nós, aqui no Ocidente, apressados e materialistas, ainda estamos longe disso. Ainda somos muito pesados. É uma pena... 


Aceitar o inevitável é uma decisão inevitável.


UMA ILHA DESERTA E GREGA 
Ainda vou reunir esses deliciosos loucos e loucas, esses santos e santas que eu amo e amei, essas deusas e musas que já conheci e ainda encontrarei, convidá-los a subir num barco, um barco enorme — um navio, um transatlântico — levá-los todos para uma ilha luminosa, deserta e grega, e viver com eles para o resto das nossas vidas. Em liberdade absoluta. Falando em todas as línguas, amando de todas as formas, bebendo de todos os vinhos, rezando a todos os deuses... A vida seria uma festa maior ainda. Viveríamos dançando todas as danças, ouvindo todas as músicas, escrevendo poesias de amor, plantando flores e colhendo estrelas, tomando sol, sorrindo e gargalhando. E transando com a própria Vida, todo dia — o dia todo. 


Só não quero que Deus morra antes de mim.


Eu só falo de Amor e Liberdade. Até o fim dos meus dias eu vou falar de Amor e Liberdade. Por isso meu verbo não se admira: só causa espanto. Acontece que escrevo para loucos brilhantes e livres de espírito. Porque aqueles cujos espíritos são meio escravos ou cujas loucuras não brilham tanto — talvez não gostem do que eu digo. E nem devem mesmo gostar. Minha literatura é feita de excessos. Tem cadência, alegria e pulsação... Como já disse, eu falo de Amor e Liberdade — e sei como se ama. Aprendi o que é o Amor. Mas não pretendo ensinar nada disso a ninguém. (...) Não busco aprovação alheia, nem quero aplausos. Só quero provocar intelectualmente as pessoas criativas, como suponho você é. No fundo, eu quero apenas questionar todas as verdades, esmagar todas as convicções — inclusive as tuas, mas especialmente as minhas. 





MINHA ALEGRIA É INVULNERÁVEL 

Quando alguém expressa um pensamento com o qual eu não concordo — sobre mim ou sobre a vida, sobre amor ou religião, sobre a Dilma ou futebol — não me sinto nem um pouco ofendido. Afinal, são milhares de pessoas pensando e emitindo opiniões a respeito dos mais variados assuntos. (...) Portanto, seria insensato estressar-me a partir dessas alheias conclusões. Respeito quase todas as opiniões, mas deixo-as onde estão, pois seria um absurdo condicionar o meu humor e a minha felicidade a esses múltiplos estímulos. Minha alegria é invulnerável. Sofismas não me atingem. Cada um de nós é um ser único. O que é bom para o outro pode ser péssimo para mim — e vice-versa. Cada um de nós pensa com seu próprio sistema nervoso. Suponho. E sugiro que você encare as críticas também da mesma forma. 


Meu corpo tem vários espíritos — e todos dançam entre si.


Quando — a duras penas — o burro aprende a raciocinar um pouco, ele não fica de modo algum inteligente. Ele apenas se torna capaz de cometer burrices um pouco mais elaboradas — e em maiores proporções. A essência da coisa não muda muito. Infelizmente. 


O mundo viraria um caos se a versão mudasse o fato.



Desmandamentos 

1. Ame a Vida sobre todas as coisas. 
2. Não obedeça a ordens — exceto àquelas que venham do teu próprio coração. 
3. A felicidade está dentro de você. Não a procure em nenhum outro lugar. 
4. O amor livre é a mais religiosa das orações. 
5. O desapego é a única porta para o Céu. 
6. A vida só existe aqui e agora. 
7. Não corra: dance. 
8. Viva acordado — em todos os sentidos. 
9. Pare de buscar: o que é teu já te pertence. 
10. Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade. 


Bem-aventurados os felizes, porque deles é o Reino de Deus.


Neste nosso Universo, tudo se resume a uma troca de energias. Desde uma paixão adolescente até à bomba atômica, tudo é troca de energia. Desde o ferver da água para um café da manhã, ao ato de acionar a tecla de um notebook; desde a lembrança amorosa que agora tenho da minha Mãe até uma viagem a Júpiter, passando pela conversa deliciosa entre dois bem-te-vis e o florescer de um lírio branco — tudo é troca de energia. Logo, com o apoio do filósofo que ora em mim, e concluindo numa expressão metafórica e poética — Deus é energia. Do meu atual ponto de vista, Deus é (também) a soma de todas essas energias dançantes que constituem o Universo. Embora algumas delas sejam vitais e outras, mortais — é a vida! 


Quem não tem ou nunca teve amores livres — ainda não sabe o que é o Amor.


Teoria do Acaso é um livro que estou escrevendo desde 1998, onde expresso meus pontos de vista sobre as causas imediatas e remotas de todos os acontecimentos num dado universo de observação. Que pode ser uma relação de amor, um emprego no subúrbio, uma viagem curta inesperada, a criação de uma galáxia, um cisco no olho, ou uma história de vida. Na minha concepção — fundada em duas décadas de estudos filosóficos — tudo acontece por acaso. Tomo como exemplo a forma como eu nasci, o modo como meu pai conheceu a minha mãe, o jeito romântico como meu louco bisavô Luiz Marques "sequestrou" minha bisavó Vitalina — e assim por diante. Sem o que veio antes não viria o que veio depois. Sem o cisco no olho do meu bisavô ele não teria ido à cidade naquela tarde de domingo, e jamais teria conhecido a moreninha vestida de chita, sentadinha num banco de pedra da estação rodoviária. Por mais que me digam que dez anos depois ele a teria encontrado de novo em outro lugar, não creio que a loucura dele fosse ainda a mesma. Nem a coragem. Nem o entusiasmo. E eu certamente não estaria aqui, hoje, te contando essas coisas. Simplesmente porque, se não fosse a loucura gloriosa do meu bisavô, eu não teria sequer existido. Esse é o tema principal do meu livro.



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Em 29 de dezembro de 2013, revisando meu livro Solidão a Mil para uma nova edição, eu encontrei na página 384 a descrição de uma conversa que eu havia tido com Fernanda quando eu fui morar no Guarujá, em 1995. Era sobre as "Dez Razões Para Nunca Mais Casar De Novo" — título de um livro que eu então estava escrevendo. Em que talvez eu ainda acrescente parênteses, deixando uma abertura em defesa da liberdade: Dez Razões Para (Nunca Mais) Casar De Novo.

Eis a parte inicial do Capítulo 13:

— Odeio-me por te amar... — ela me diz quase chorando.
— Não entendo — minto-lhe que não entendi, segurando-lhe as mãos.
— Odeio-me por te amar do modo errado! — ela enfim confessa. E eu sei que essa confissão lhe é dolorida. Depois de seis meses tentando mudar-me, em vão, ela jogou a toalha.
Procurando continuar o diálogo que já dura séculos, perguntei:
— Mas por que você não pode me amar do modo certo?
— Porque eu só sei amar do modo errado... — ela diz e me abraça, como se quisesse adiar o momento final. Embora ela tenha qualidades fascinantes, eu não devo abrir concessões. Ceder uma vez só é mais difícil do que ceder nunca.  E se eu, algum dia, amar do modo errado só para satisfazer um grande amor, nunca mais poderei de novo amar do modo certo. Aliás, se eu fosse do tipo que ama do modo errado, nem com ela hoje eu estaria. Eu estaria lá em casa, com a outra, que passou quase três anos me esperando no portão...
— É a vida... — tento consolá-la, sinceramente. Tento mitigar-lhe a frustração. Tento esticar por amor humanitário uma relação já por demais tensionada. Porém, por dentro de mim, tudo já está decidido: chegamos ao fim. Melhor perdê-la do que perder-me.

É a vida.